Estes dias de Setembro põe-me nostálgica.
Dou comigo a lembrar-me das férias em criança, em que passávamos o mês todo na quinta dos meus avós maternos em Trás-os-Montes (as aulas só começavam a 7 de Outubro).
Dou comigo a lembrar-me das férias em criança, em que passávamos o mês todo na quinta dos meus avós maternos em Trás-os-Montes (as aulas só começavam a 7 de Outubro).
Numa dessas férias o avô propôs-nos ir trabalhar para as vindimas e a apanha da amêndoa com as condições: trabalharmos exactamente como os outros trabalhadores, não podíamos desistir a meio da jeira e tinhamos de trabalhar a sério. Começar às 7h da manhã e largar às 16h com 1h30 de almoço. Se estivéssemos perto de casa almoçávamos em casa se não, levávamos merenda como os outros e comíamos no campo.
Íamos para o trabalho a pé ou de carroça puxada por um macho como todos os outros, essa era a melhor parte!
No inicio de Setembro começávamos a apanha da amêndoa naqueles montes escarpados de terra e xisto com um sol abrasador, quando era dada a ordem para iniciar a vindima (quem decidia eram as casas inglesas que nos compravam o vinho do Porto ou melhor, o vinho Fino), passávamos para a vindima e , se por acaso começasse a chover íamos para o salão da amêndoa descascar, separar e partir a amêndoa para ser vendida.
Na amêndoa os homens varejavam e carregavam os cabazes, as mulheres apanhavam a amêndoa do chão.
Na vindima eles despejavam os cestos e carregavam os cabazes que depois eram levados para o lagar de carroça, elas cortavam os cachos de uvas com uma navalha.
O que mais custava era o sol (40º à sombra era normal) e a dor nas costas de andarmos sempre dobradas, por isso as minhas primas e eu começámos a inventar e descobrimos que conseguíamos apanhar as uvas sentadas em metade dos cestos!
Todos gostávamos imenso destes trabalhos, apesar de ficarmos completamente de rastos, e não me lembro de nenhum de nós desistir a meio de uma jeira ou mesmo da temporada toda. Era um rancho grande e o trabalho era feito todo com brincadeiras, cantorias e boa disposição. Por exemplo, se aparecesse algum “estranho”, mesmo que fosse da casa, uma das mulheres ía dizer-lhe uns versos e ele tinha de pagar multa: cigarros para os homens e rebuçados para as mulheres.
Quando o dia acabava íamos para o lagar ver fazer o vinho e ajudar se fosse preciso. Aqui havia um pormenor, as raparigas tinham de ir quase à sucapa porque não tinham licença do avô para estar no lagar… Normalmente nós, as raparigas íamos ajudar a nossa querida A. a preparar tudo para o jantar (além dos 13 também havia os “crescidos”) ou dormitar, ouvir histórias e brincar na eira ou pela quinta com os filhos dos trabalhadores. A parte que não gostávamos mesmo nada era o toque do sino ao fim do dia, estrategicamente colocado para ser ouvido em toda a quinta, consoante a hora tinha o seu recado a dar-nos; almoço, lanche e o do fim do dia…. Banho! Era sempre uma guerra para ser o último!
Nos tempos livres e quando não havia trabalho ao fim-de-semana (se o lagar estivesse a meio tínhamos de vindimar para o encher) fazíamos as nossas brincadeiras favoritas, andar de bicicleta por aqueles montes fora em perfeitos caminhos de cabras ou mesmo sem haver caminhs e sem travões, concurso para ver quem conseguia atravessar a ribeira de bicicleta sem cair a meio, guerras de andas, matraquilhos e índios e cowboys (raparigas - índios, rapazes - cowboys), cada um tinha 2 fortes, 2 do lado direito da ribeira e 2 nos montes por trás da casa. Fazíamos ataques uns aos outros às vezes com flechas e setas quase verdadeiras (agulhas de tricot com as pontas afiadas no ferrador da vila). Fazíamos também a segurança da entrada de pessoas na quinta e, não havia telemóveis, quantas vezes o meu avô estranhando o atraso de amigos em chegar não teve de ir ver o que se passava na estrada de terra que ligava a quinta à estrada principal!... "Avô eles não sabem a senha não podem passar"! E o avô, cheio de paciência, lá pedia desculpa pelas garotices e resolvia o assunto.
Outras vezes um dos adultos mais atentos lá via numa das subidas da estrada de terra que havia uma mancha fora do normal (eramos nós) e ía ver o que se passava...
São tantas, mas tantas recordações deste tempo…
6 comentários:
Olé
Parabens atrasados pelo aniversário deste teu-nosso espaço... por razões de trabalho estive incontactavel dai o meu atraso.
Fiquei fascinada com essas tua memorias... não são parecidas com as minhas mas sentias como se me fossem perto.
Cansativas em todo o caso :)
Estas bem neste novo ano lectivo?
Abraços
Pés
:P
Essa do teu avô... :P era uma boa maneira de meter o pessoal a trabalhar de graça! :P Loool.
Férias até Outubro? Ainda se queixavam? :D
Olá Pés! Começava a ficar preocupada com a ausência...
Tenho tantas memórias deste tipo que tenho de me refrear para não me pôr aqui a escrever sem fim ahaha.
O ano lectivo vai indo e as preocupações aumentando com a necessidade da miúda ter boas médias....
Gimbras, por acaso não escrevi que ao sábado de manhã íamos para a bicha como os outros trabalhadores receber a jeira da semana... Quanto às férias eram mesmo Julho, Agosto e Setembro e não me queixava :)
Olá, Mimanora!
Nem me lembres destas andanças que eu estava a ler-te e a recordar cópia (quase fiel)!
E já se me foram os quatro avós...
Circle of life.
Um beijinho.
Olá Gemini!
Os meus 4 avós também... mas deixaram-me estas recordações deliciosas e um exemplo de vida :)
Beijinho
Ai ai, Mimanora
Isso é que eram férias!!! Três meses inteirinhos de brincadeiras e trabalho.
Ao ler-te, li tanto do que fiz, também. Também ia para o campo com o meu avô materno (o único dos meus avós que conheci). Eu e os meus primos éramos os amores e as dores de cabeça dele :)
Desaparecíamos de manhã, mas à hora de almoço, mesmo sem relógio, estavamos em casa para comer. Brincar de manhã à noite, ir para o rio... Qual telemóvel, qual playstation, qual nintendo... muito melhor! Muito, muito, bom.
Tenho fotografias dessa altura em que pareço uma autêntica índia!
Bons tempos, boas recordações!!
Beijinhos
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